Adital (Brasil): «Nodal, um portal da América Latina e Caribe»

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«É inaceitável que meios europeus ou estadunidenses sejam a referência informativa para o continente”

– «Consolidar uma agenda informática regional que inclua o mais relevante”
– Informação «made in América Latina” para sustentar a integração regional

Se a América Latina e o Caribe enfrentam o grande desafio da integração regional, a mesma não poderá ser construído sobre a base de uma dependência informativa dos centros de poder. É essencial «construir uma agenda própria das informações e facilitar que o que se produz em cada país seja accessível para todos rapidamente”, enfatiza Pedro Brieger, sociólogo e jornalista argentino. Com essa premissa, juntamente com uma equipe de comunicadores e com o auspício de Fila (Fundación para la Integración Latinoamericana), fundou, em julho desse ano, o portal informativo Nodal, dedicado exclusivamente às notícias do continente, que se propõe «transmitir as realidades da região. É um contrassenso que, apesar dos ares de democratização que sopram no continente, a maior parte da informação que circula por aqui seja produzida por agências europeias ou estadunidenses”, ressalta Brieger, começando a entrevista.

P: Quando Nodal foi lançado, em agosto de 2013, sua hipótese, amplamente difundida, foi a de criar um portal de consulta, mais do que constituir-se em meio alternativo. Qual a reflexão de fundo para resultar nesse perfil?

Pedro Brieger (PB): Nodal surge depois de vários anos de reflexão sobre os mecanismos de circulação da informação na América Latina. O primeiro problema que se apresenta para qualquer interessado na informação regional é que não sabe por onde começar para informar-se dia a dia sobre os acontecimentos. Tem que entrar nos diários de cada país para saber o que acontece e –obviamente- ninguém tem tempo para fazer isso. Por essa razão, inclusive os jornalistas consultam somente um ou outro diário de um ou outro país. Nossa equipe de jornalistas lê o que se publica em toda a região e faz uma seleção para que em uma mesma página o leitor interessado possa, em escassos segundos, informar-se sobre o que acontece na América Latina e Caribe. Uma vez que tem a visão global, pode entrar em um país em particular para aprofundar conteúdos. Com a seleção que fazemos, estamos apresentando uma agenda informativa do que pensamos ser o mais relevante sobre a informação regional.

P: Como esse funcionamento se materializa?

PB: Por exemplo, duas semanas antes de Horacio Cartes assumir como presidente do Paraguai, em 15 de agosto, fomos informando dia a dia sobre o que rodeava esse acontecimento. Os debates sobre Cartes, as negociações com os outros partidos e, claro, tudo o que caracteriza a relação conflitante desse país sul-americano com a Unasul e com o Mercosul. Ao dar esse seguimento, estávamos assinalando ao restante da região que esse tema era relevante. O mesmo foi feito com o 40º Aniversário do Golpe de Estado no Chile, em setembro. Duas semanas antes, armamos um serviço especial para acompanhar de perto os debates, as declarações dos políticos, os livros publicados e tudo o que acontecia no Chile. É uma maneira de mostrar aos salvadorenhos, jamaiquinos ou mexicanos que essa era uma temática considerada importante. E, claro, oferecíamos informação a respeito, em Nodal. A informação que não é própria é reproduzida a partir do que já existe, e não é pouco.

A América Latina necessita uma referência informativa própria

P: Ou seja, Nodal facilita a circulação de informação temática relevante para o continente?

PB: Sim. Conscientes de que grande parte das notícias divulgadas pelos diários, rádios e cadeias de TV provêm de agências de notícias europeias e norte-americanas, fizemos um trabalho de relevamento dos meios de comunicação na região, dos maiores até os menores. Comprovamos então que a imensa maioria dos meios se nutre da informação dessas agências e não do que se diz ou se publica em cada um dos países. Essa realidade acarreta dois problemas. Em primeiro lugar, uma parte das notícias chegam tarde. Além disso, refletem o olhar e conteúdos dessas agências. Isso quer dizer que falta um olhar latino-americano e caribenho sobre os temas da região. Não é possível que os meios europeus ou estadunidenses sejam a referência informativa para a América Latina.

Nodal busca ser uma referência para que jornalistas, políticos, empresários e público em geral tenham acesso à informação elaborada especificamente em cada país. Por exemplo, não temos que esperar que o diário El País, da Espanha, informe sobre a decisão do Parlamento peruano de conceder uma saída ao mar para a Bolívia, através do Porto de Ilo, quando a imprensa peruana já informou extensamente a respeito.

Há muitos temas que as grandes agências ignoram, por inúmeros motivos, e que ocupam um lugar em Nodal porque as consideramos relevantes. Por exemplo, a iniciativa atual em várias nações do Caribe para reclamar reparações pela escravidão imposta pelas potências coloniais. Esse tema é muito importante no Caribe e, inclusive, a Comunidade do Caribe (Caricom) já o tratou. Por isso tem espaço em Nodal, apesar de que os grandes meios o ignorem.

P: Nodal como um espaço amplo e diverso…

PB: Nodal como fonte indispensável de consulta para toda a região, colocando o acento nos processos de integração regional. Nodal não é um sítio «alternativo”, caso entendamos como alternativo um espaço informativo para especialistas que dão seguimento a um tema em particular ou têm uma visão ideológica estreita.

A informação como bem público

P: O debate sensitivo e de fundo entre a informação como bem público –e não como mercadoria- faz parte da reflexão conceitual dos profissionais que promovem Nodal?

PB: É certo que esses temas continuam vigentes. E expressamos isso em nossa prática cotidiana. Me explico: o direito à informação é, concretamente, difundir a Declaração de Paramaribo, da última cúpula da Unasul, de final de agosto, e que praticamente não foi citada pelos grandes meios. É possível que muitos jornalistas não saibam onde encontrá-la. Foi publicada por Nodal para que possa ser consultada e esse é um dos serviços que nos propomos oferecer.

P: Nodal já cumpriu dois meses de existência. Seria interessante um primeiro balanço. O que mais o surpreendeu…

PB: Nesse curto tempo e sem uma grande campanha de difusão –que não é simples e que deve cobrir toda a região, que é muito ampla- houve umas 35 mil visitas a nossa página. As mesmas originaram-se de quase mil cidades de 81 países, o que demonstra a penetração de Nodal em muitos países. O que nos estimula a seguir nesse caminho.

P: Alguma reflexão para concluir?

PB: Insistir em nossa essência. Nodal não pode abraçar todos os âmbitos e regiões porque perderia sua força específica, que é a América latina e o Caribe. Não faltam os que nos propõem cobrir outras regiões e outras temáticas. Porém, não podemos diversificar tanto, sabendo que existem outros sítios mais especializados nessas temáticas. Nosso trabalho é específico e esse princípio constitui um marco conceitual importante para poder fazer bem o que oferecemos, assegurando qualidade, profissionalismo, diversidade; porém, no marco específico de nosso continente…

www.nodal.am

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Nodal apresenta seus objetivos

-Difundir informação sobre a América Latina e o Caribe, com uma visão de integração regional.

– Que Nodal se constitua em consulta obrigatória e necessária como referência de originalidade e profissionalismo em relação às notícias de América Latina.

– Construir uma agenda informativa própria de e para a região.

– Coadjuvar, através da informação e de sua contextualização, ao conhecimento mútuo dos países da região, base essencial para seus projetos integracionistas.

-Difundir documentos, discursos e as ações dos diferentes governos com base na informação gerada em cada país. (S.Ferrari).

 

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