El poder corrupto – Diario Zero Hora, Brasil

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Los conceptos vertidos en esta sección no reflejan necesariamente la línea editorial de Nodal. Consideramos importante que se conozcan porque contribuyen a tener una visión integral de la región.

O poder corrompido

Apesar da natural perplexidade provocada pela delação premiada de executivos da empreiteira Odebrecht, o país precisa encarar com serenidade os processos de investigação e julgamento dos acusados, para evitar que o terremoto político arruíne o que resta de estabilidade e retarde ainda mais a retomada da normalidade econômica. É imprescindível continuar observando a premissa democrática de que delação não é prova, para que todos os acusados tenham amplo direito de defesa. Não pode haver caça às bruxas nem condenações prévias, pois a demonização da política e a desmoralização das instituições costumam gerar aventuras autoritárias. A Lava-Jato tem que levar o país a um novo patamar de seriedade de suas instituições, não a retrocessos. Mas todos os que comprovadamente se envolveram com a corrupção têm que ser devidamente responsabilizados, na forma da lei e na dimensão de seus delitos.

O que mais escandaliza nas revelações do ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht aos investigadores da Operação Lava-Jato não é a quantidade de dinheiro gasto com o pagamento de propinas nem a quantidade de políticos alegadamente subornados com doações oficiais e ilegais para suas campanhas eleitorais. Choca, acima de tudo, o poder da corrupção organizada, que controlava lideranças políticas nas duas casas legislativas do Congresso Nacional, influenciava votações de projetos de interesse da empresa e aliciava governantes nos Estados e municípios onde o conglomerado atuava. De acordo com Cláudio Melo Filho, que comandava a Área de Operações Estruturadas, na verdade um departamento de propinas, os políticos eram escolhidos por seu poder de influência ou pelo potencial para tomar decisões que poderiam favorecer empresas do grupo. Em resumo: a se confirmarem os termos da delação, a empreiteira e os políticos desonestos tinham transformado o Brasil numa grande negociata em que ambos lucravam à custa dos demais brasileiros.

Apelidada de «delação do fim do mundo», num momento em que apelidos e codinomes dão um toque de humor irônico ao descalabro da administração pública no país, a colaboração premiada do núcleo diretivo da Odebrecht deixa contra a parede o governo Temer, alguns de seus ministros e vários aliados, mas atinge também integrantes da oposição. Tudo terá que ser comprovado, mas o que já veio a público demonstra, sem subterfúgios, que o sistema de doações empresariais para campanhas políticas, atualmente vetado pela legislação eleitoral, era o motor da corrupção, pois mesmo contribuições oficiais e legalizadas eram feitas mediante a exigência de contrapartida e de favores para o doador.

O chamado caixa 2 aparece novamente como porta da corrupção das campanhas eleitorais, com o agravante de que os recursos investidos nessa rubrica clandestina eram sistematicamente subtraídos da nação por meio de contratos superfaturados. Os agentes públicos flagrados nessa irregularidade não podem ficar impunes sob o pretexto de que essas eram as regras do jogo político. Não eram. Há no quadro político nacional homens e mulheres que conquistaram seus mandatos sem fazer uso de meios ilegais e sem trair seus eleitores. Aqueles que o fizeram têm que ser responsabilizados na forma da lei, independentemente de estarem ocupando ou não cargos na administração.

O Brasil precisa manter a integridade de suas instituições democráticas para enfrentar dificuldades e buscar soluções para a crise econômica que paralisa o setor produtivo e corrói empregos. Mas, acima de tudo, precisa superar logo esta crise moral, que alimenta a desconfiança e a desesperança dos brasileiros.

Zero Hora

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