Uma semana contra o Capitalismo de Desastre – Por Naomi Klein

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Por Naomi Klein *

Estamos vivendo tempos assustadores. Como Greta Thunberg tem dito com frequência: “Nossa casa está pegando fogo”. E eu acredito firmemente que três coisas devem estar alinhadas, se quisermos extinguir as chamas. Para começar, precisamos de coragem para sonhar com outro tipo de futuro. Para afastar o sentimento de apocalipse inevitável que permeia nossa cultura. Para nos dar orientação, um objetivo comum, um vislumbre do mundo pelo qual estamos trabalhando.

Mas esses sonhos são inúteis se não estivermos dispostos a abraçar duas outras forças. Uma é a necessidade de encarar a verdade de nosso momento histórico – a verdade sobre o quanto já perdemos e o quanto mais estamos à beira de perder, se não abraçarmos níveis revolucionários de mudança.

A outra coisa é reconhecer que encontramos nossa luta. Temos de nos unir através das diferenças e construir uma alternativa potente e inabalável. Diante dos incêndios que balançam nosso mundo, temos que encontrar nosso próprio fogo. Nossa verdade e nosso fogo.

Greta Thunberg é uma das pessoas mais reveladoras desta ou de qualquer outra época. Vamos relembrar algumas de suas falas mais emblemáticas. Aos negociadores climáticos da ONU na Polônia, em dezembro passado, ela disse: “Vocês não são maduros o suficiente para falar das coisas como elas são. Até esse fardo vocês deixam para nós, crianças.”

Aos deputados britânicos que pediram que ela falasse, ela perguntou: “Meu inglês está bom? O microfone está ligado? Porque estou começando a duvidar.”

Aos ricos e poderosos de Davos, que a elogiaram por lhes dar esperança, ela respondeu: “Não quero sua esperança. (…) Quero que vocês entrem em pânico. Quero que vocês sintam o medo que sinto todos os dias. Quero que vocês ajam. Quero que vocês ajam como agiriam na crise. Quero que vocês ajam como se a casa estivesse pegando fogo, porque está.”

Ela também disse a eles que não podemos culpar as pessoas pela crise climática. Não, e ela disse olhando-os nos olhos que os culpados são eles. E nós sempre vamos amá-la por isso.

Mas Greta não é só de falar. Tudo isso começou com ação. Começou quando Greta se deu conta, há um ano e um mês, de que se desejava obrigar os poderosos a correr em ritmo de emergência contra as mudanças climáticas, precisava refletir esse estado de emergência na própria vida. Então, parou de fazer a única coisa que, espera-se, todas as crianças devem fazer normalmente: ir à escola e preparar-se para o futuro como adultos.

Em vez disso, ela se postou diante do parlamento sueco com um cartaz feito à mão que dizia simplesmente: “Greve Escolar pelo Clima”. Começou a fazer isso todas as sextas-feiras, e logo atraiu uma pequena multidão. Então outros estudantes começaram a fazer o mesmo em outras cidades.

Estudantes como Alexandria Villaseñor, que se colocou diante do edifício das Nações Unidas em Nova York toda sexta-feira, semana após semana, fizesse chuva, neve ou sol. Algumas vezes a greve dos estudantes pelo clima foram feitas por uma única criança. Outras vezes, dezenas de milhares apareceram.

E então, no dia 15 de março, aconteceu a primeira Greve Escolar Global pelo Clima. Mais de 2 mil manifestações, em 125 países, com 1,6 milhão de jovens participando num mesmo dia. Um milhão e seiscentas mil pessoas. Uma conquista e tanto para um movimento que começara oito meses antes com uma única menina de 15 anos em Estocolmo, Suécia.

E agora, esse movimento se prepara para o seu maior desafio: eles pediram a pessoas de todas as idades que em 20 de setembro participem e entrem em greve, em todo o mundo. Porque proteger o futuro não é um esporte para espectadores.

Thunberg e os muitos outros jovens organizadores incríveis deixaram bem claro que não querem adultos dando tapinhas em suas cabeças e agradecendo-lhes pela dose de esperança. Querem que nos juntemos a eles em sua luta pelo futuro. Porque é direito deles. E dever todo nosso.

Tradução: Inês Castilho


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