João Nery, primer transexual operada en Brasil: «Las travestis son tratadas como basura»

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“Era como se eu quisesse dizer a todas as pessoas que o meu físico não era aquele, ou melhor, fazê-las entender que meu corpo mentia contra mim”. Reflexões como estas estão no livro “Viagem Solitária – Memórias de um transexual trinta anos depois”, de João Nery, primeiro transexual masculino a ser operado no Brasil. O autor participou da abertura do 1º. Encontro de Diversidade Sexual promovido pelo curso de Teatro da Universidade Federal de São João del-Rei. João Nery, de 65 anos, falou sobre seu processo de autoafirmação, desde a infância à paternidade.

Brasil de Fato – O senhor afirmou que há algumas décadas havia duas formas de um transexual sair da marginalidade: ser rico ou virar intelectual. O que mudou?

João Nery – Eu ainda acho que é por aí. Porque se você é rico, tudo é excêntrico, e você pode calar a boca de quem quiser com dinheiro, em termos. E se você é intelectual você tem um cabedal de informações e um discurso que também facilitam o entendimento. É claro que existem outras formas, esta é uma maneira simplória de dizer.

Estimativas mostram que 90% das travestis e transexuais brasileiras se prostituem, e que sua expectativa média de vida é de 30 anos, em contraste com a expectativa de 74 anos para o brasileiro. Os transexuais ainda vivem na marginalidade?

Completamente. As travestis são tratadas como o resto do resto do lixo. Há uma hierarquização, sim, até dentro do movimento. Até o nome transexual é um termo médico mais higiênico, mais sofisticado, enquanto travesti é normalmente sinônimo de prostituta. Isso não quer dizer que muitas não se prostituem. Mas por que acontece isso? A maioria das travestis e transexuais são expulsas de casa menores de idade, vão morar debaixo de uma ponte porque não existem abrigos, só abrigo masculino ou feminino, e elas não querem ir para nenhum dos dois. Então elas acabam se drogando, pra ter coragem inclusive de se prostituir e não morrer de fome. Atualmente existe um site chamado transempregos.com.br, no qual os trans podem se inscrever, e há 92 empresas multinacionais abertas à diversidade sexual. Mas é muito sofrimento, se mata uma a cada dia, na verdade.

Há demandas diferentes para as trans mulheres e os trans homens?

Existem pequenas diferenças, mas a pauta principal é única: a aprovação da Lei de Identidade de Gênero. Outra pauta é o aumento do número de unidades do SUS e ambulatórios para atender as filas vergonhosamente enormes. As trans mulheres precisam de prótese de mama, por exemplo, que o SUS não fornece. O que acontece com as travestis que precisam se feminilizar para trabalhar, é que elas usam um silicone usado em máquinas, que é baratíssimo. Muitas morrem porque esse silicone adere aos músculos, é um autoenvenenamento. Já os homens trans não temos ginecologistas para nos atender, pois a maioria não está preparada.

E quais são as pautas em comum com o feminismo?

As trans mulheres reivindicam o direito de fazer parte do movimento feminista, e muitos movimentos mais radicais não aceitam, às vezes mesmo tendo feito a cirurgia. Então se criou o transfeminismo para dar visibilidade não só às mulheres trans, mas também aos homens trans que querem participar do movimento feminista.

Brasil de Fato

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