A presidenta Dilma Rousseff classificou quarta-feira de “insinuação” a avaliação de que a nova fase da Operação Lava Jato está se aproximando do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista no Equador, onde participou da 4ª Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), a presidenta voltou a questionar o vazamento de informações da investigação e disse que não responderia a perguntas que ligassem Lula à operação.

“Eu me recuso a responder pergunta desse tipo. Me recuso porque se levanta acusações, se levanta insinuações e não me diz por que, como, quando, onde e a troco do quê? Se alguém falasse a respeito de qualquer um de nós aqui, ‘a nova fase da Lava Jato levanta suspeita sobre você’, e você não soubesse do que é suspeita, como é a suspeita e de onde vem a suspeita, você não acharia extremamente incorreto, do ponto de vista do respeito?”, questionou, em resposta aos jornalistas.

A nova fase da Lava Jato, deflagrada hoje, investiga lavagem de dinheiro com a compra de empreendimentos imobiliários no Guarujá, litoral paulista. Três pessoas foram presas e a Polícia Federal apura se imóveis que pertenciam à cooperativa Bancoop e foram transferidos para a empreiteira OAS foram usados como repasse de propina.

Segundo Dilma, para acusar, é preciso ter provas. “Ao contrário do mundo medieval, o ônus da prova é de quem acusa. Daí por isso o inquérito, toda a investigação.”

Perguntada se a investigação de corrupção na Petrobras pode prejudicar a economia brasileira, Dilma respondeu que essa é a avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI), não a do governo. “O FMI acha. Eu acho que vocês devem perguntar ao FMI”, disse. Na semana passada, a presidenta disse ter ficado “estarrecida” com as previsões do órgão sobre a economia do país.

Na entrevista, Dilma comentou a proposta que fez aos chefes de Estado da Celac para que os países do continente se unam em uma ação de cooperação de combate ao vírus Zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. O vírus está associado à ocorrência de microcefalia em recém-nascidos.

“Vamos todos fazer um esforço. Vamos cooperar também na área de pesquisa científica e tecnológica, mas nós sabemos que a única forma de cooperar agora é difundirmos entre nós as melhores práticas de combate ao vírus”.

Diario de Noticias

 PT prepara ato para defender ex-presidente Lula

O PT vai aproveitar as comemorações pelo aniversário do partido, marcadas para os dias 26 e 27 de fevereiro, no Rio de Janeiro, para fazer um ato em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Movimentos sociais que compõem a Frente Brasil Popular também estudam incluir a defesa de Lula nas manifestações contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff previstas para ocorrer na segunda quinzena de março.O foco da mais recente fase da Operação Lava Jato – batizada de Triplo X – é o condomínio Solaris, no Guarujá, no litoral paulista, onde a mulher de Lula, Marisa Letícia, chegou a ter a opção de compra da unidade 164-A. Relatório divulgado nesta quarta-feira, 27, incluiu um diagrama com imóveis sob investigação do condomínio, entre eles o imóvel ligado ao ex-presidente.O documento indica que a OAS, empreiteira acusada de cartel no esquema de propinas e desvios de recursos na Petrobrás, aparece hoje como proprietária do apartamento, após Marisa ter desistido do negócio, segundo o Instituto Lula, presidido por Paulo Okamotto.

Para a Polícia Federal, todos os imóveis sob investigação possuem “alto grau de suspeita quanto à sua real titularidade”.

Em conversas reservadas, petistas e interlocutores de Lula sempre repetem que nenhum fato novo contra Lula surgiu nos últimos dias e que o noticiário negativo sobre o ex-presidente se deve às movimentações da Lava Jato, que nesta quarta-feira deflagrou investigações sobre o prédio onde o petista teria um tríplex, no Guarujá, e o Ministério Público Estadual de São Paulo, que ameaça apresentar denúncia contra Lula por ocultação de patrimônio no caso do apartamento.

Estratégia. Depois de divergências sobre a estratégia a ser adotada diante da nova ofensiva, o Instituto Lula decidiu partir para o contra-ataque e não deixar Lula “apanhar quieto”. Uma nota foi divulgada na quarta-feira à noite e uma postagem foi feita nesta quinta-feira, 28, em uma rede social, nas quais o ex-presidente refuta irregularidades no caso do apartamento. Medidas judiciais contra o promotor Cassio Conserino, que ameaça denunciar Lula, e outras pessoas estão sendo avaliadas pelos advogados do petista.

Em outra frente, o PT fará uma enfática defesa da imagem de Lula. O palco para isso será o aniversário do partido. A comemoração, inicialmente, tinha o objetivo de ser a largada para as eleições municipais de outubro deste ano.

Reação. Lula negou novamente, nesta quinta-feira, ser dono do apartamento tríplex no Guarujá, que é um dos alvos da Triplo X.

“Adquirir cotas de uma cooperativa habitacional a prestações não significa tornar-se proprietário de um imóvel. A família de Lula poderia ter exercido o direito de compra do apartamento por seu preço final, completando o valor necessário, mas decidiu não fazê-lo”, afirmou o ex-presidente em seu perfil no Facebook.

A publicação afirma ainda que “parte da imprensa insiste em ignorar essas informações em nome de uma manchete mais saborosa”.

Estadao

Nova fase da Operação Lava Jato mira apartamento triplex ligado a Lula

22ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada e batizada de Triplo X, vai apurar a relação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com um apartamento tríplex na praia de Astúrias, em Guarujá (SP), cuja opção de compra pertencia à mulher dele, Marisa Letícia, e hoje está em nome da OAS.

O objetivo da força-tarefa é descobrir se a empreiteira, acusada de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras, buscou beneficiar ilegalmente o ex-presidente por meio do imóvel. É a primeira vez que a operação investiga um negócio diretamente ligado a Lula e seus parentes.

Marisa Letícia adquiriu a opção de compra do imóvel em 2005 por meio da cooperativa habitacional Bancoop, a antiga titular do prédio. Em 2014, o tríplex foi totalmente reformado pela OAS. Porém, em novembro de 2015, a assessoria de Lula informou à Folha que a família havia desistido de ficar com o imóvel.

O recuo ocorreu após as informações sobre o apartamento ganharem visibilidade na imprensa e a Lava Jato levar à prisão o ex-presidente da Bancoop e ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e de executivos da OAS.

Como revelado pela Folha em dezembro, a Promotoria colheu depoimentos de engenheiros e funcionários do condomínio apontando que familiares de Lula estiveram no tríplex durante as fases de construção e reforma do imóvel. As visitas envolveram medidas para esconder a presença da família no condomínio.

Ao anunciar a operação deflagrada nesta quarta, a força-tarefa da Lava Jato não citou Lula em nenhum momento. Informou apenas que todos os apartamentos do condomínio onde fica o tríplex serão investigados para apurar se a OAS cedeu unidades do empreendimento para repasse disfarçado de propina do esquema de corrupção na Petrobras.

O prédio não foi alvo de nenhuma medida de busca e apreensão nesta quarta. O juiz Sergio Moro, no entanto, autorizou buscas específicas por documentos na OAS e na Bancoop que poderão rastrear a ligação da família de Lula com o empreendimento.

Indagado se o ex-presidente era alvo da operação, o procurador da República Carlos Fernando Lima afirmou: «Nós investigamos fatos. Se houve um apartamento dele, que esteja no seu nome ou que ele tenha negociado ou alguém da sua família, vamos investigar, como todo mundo».

Em manifestação à Justiça, a Procuradoria apontou que são alvo de apuração unidades que «indicaram alto grau de suspeita quanto à sua real titularidade».

A relação de Lula com o tríplex também é investigada pelo Ministério Público de São Paulo. O promotor de Justiça Cassio Conserino já anunciou ter obtido indícios suficientes para denunciar Lula pelo crime de lavagem de dinheiro em inquérito sobre o imóvel.

Entre os apartamentos sob investigação, nove estão em nome da OAS, um é registrado em nome de uma funcionária da empresa e outro é da offshore Murray Holdings, sediada no Panamá e criada pela firma Mossack Fonseca. Integrantes da força-tarefa afirmaram ter indícios de que essa empresa foi usada para ocultação de patrimônio.

Na operação desta quarta, foram presas três pessoas ligadas ao escritório da Mossack Fonseca. Outras duas estavam no exterior e um terceiro não foi localizado. Houve buscas no escritório da empresa.

A publicitária Nelci Warken, que já prestou serviços para a Bancoop, foi presa. A PF apura se ela usou a estrutura da Murray para ocultar patrimônio em favor da cunhada de Vaccari, Marice Correa de Lima.

OUTRO LADO

O ex-presidente Lula afirmou, por meio de nota de seu instituto, que repudia qualquer tentativa de envolver seu nome em atos ilícitos da Operação Lava Jato.

«Lula nunca escondeu que sua família comprou uma cota da Bancoop, para ter um apartamento onde hoje é o edifício Solaris. Isso foi declarado ao Fisco e é público desde 2006. Ou seja: pagou dinheiro, não recebeu dinheiro pelo imóvel», diz a nota.

O advogado de Lula, Cristiano Martins, aponta que a decisão do juiz Sergio Moro não faz nenhuma referência ao petista. «Lula e nenhum de seus familiares têm ligação com essa investigação», afirmou Martins, que defende o petista em conjunto com o criminalista Nilo Batista.

Ele explicou que Lula e sua mulher, Marisa Letícia, possuíam uma cota do empreendimento, mas decidiram resgatá-la quando ele foi transferido para a OAS.

O advogado da OAS, Edward Carvalho, criticou a condução dos mandatos. «Bastaria ter solicitado os documentos, e não fazer algo espalhafatoso.»

Em nota, a Bancoop afirmou que por deliberação coletiva dos cooperados, «o empreendimento foi transferido à OAS Empreendimentos». A cooperativa diz que desde 2009 não tem relação com o empreendimento.

O advogado de João Vaccari Neto, Luiz Flávio Borges D´Urso, disse que não há acusações contra seu cliente nesta operação. «Ele teve cotas da Bancoop, pagas mensalmente, dentro da lei.»

A Mossack Fonseca não retornou o contato da reportagem. A defesa da publicitária Nelci Warken e de Marice Correa de Lima, cunhada de Vaccari, não foram encontradas.

Folha