Bolsonaro se pasea por Brasilia sin recaudos sanitarios y anuncia un polémico decreto

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Crisis a la vista: Bolsonaro desafía a su ministro de Salud

Menos de 24 horas después de que su ministro de Salud, Luiz Henrique Mandetta, defendiera mantener el aislamiento social – léase: cuarentena –, el ultraderechista presidente brasileño Jair Bolsonaro desfiló a lo largo de más de una hora por Brasilia y su conurbano, las llamadas “ciudades satélites”.

Sin mascarilla sanitaria, rodeado de escoltas a menos de un metro de distancia, entró en un supermercado, una farmacia, habló con vendedores callejeros, se dejó fotografiar prácticamente pegado a seguidores extasiados, es decir, hizo absolutamente todo lo que las autoridades sanitarias alrededor del mundo, con destaque para científicos y médicos especialistas en epidemias, recomiendan enfáticamente no hacer. Y, para no perder la costumbre, maldijo a periodistas.

En todas las paradas habló a las personas, promoviendo pequeñas – y nada recomendables – aglomeraciones.

Defendió enfáticamente que “trabajar no es ni puede ser un crimen”. En un supermercado, y hablando a un funcionario igualmente sin mascarilla sanitaria situado a menos de medio metro de distancia, le preguntó si él creía que el pueblo tiene derecho a trabajar. Y a un hombre, esta vez al aire libre, que vendía pinchos de carne en una parrilla improvisada, le preguntó cómo haría para alimentar a la familia si no pudiese salir de casa.

Cada vez que habló, Bolsonaro dijo reconocer la importancia de combatir el coronavirus, pero que la cuestión del trabajo es prioritaria.

También pasó por el Hospital de las Fuerzas Armadas, donde permaneció por cerca de veinte minutos. Más tarde, dijo que el objetivo de la visita era enterarse de la situación. No quiso contestar si se había sometido a otro examen para coronavirus, que sería el cuarto. De los anteriores, sigue negándose a mostrar los resultados, que dice haber sido negativos.

Más allá de ir rigurosamente a contracorriente de lo anunciado largamente el día anterior por su ministro de Salud, Bolsonaro desoyó a casi todo su ministerio, en especial los militares de alto rango que ocupan despachos en el palacio presidencial.

El sábado, y a lo largo de casi tres horas, el ultraderechista se reunió con un grupo de ministros. Oyó consejos para una actuación conjunta en esa crisis provocada por la pandemia. Los más enfáticos fueron precisamente los ministros militares de alto rango.

Uno de los participantes luego contó, de manera reservada, que en determinado momento el ministro Mandetta, de Salud, le pidió que moderase sus pronunciamientos.

Acorde al diario conservador O Estado de S.Paulo, hubo extrema tensión cuando Mandetta elevó su tono de voz para preguntarle a Bolsonaro si él estaba preparado para ver camiones del Ejército recogiendo cadáveres por doquier.

Bolsonaro insistió, como respuesta, en imponer la “cuarentena vertical”, o sea, solo para mayores de 60 años y personas con otros tipos de enfermedad. Mandetta repitió que, al menos de momento, debería haber una “cuarentena horizontal”, con poquísimas excepciones.

Y, otra vez de acuerdo a O Estado de S.Paulo, en ese momento volvió a elevar la voz advirtiendo que, en caso de que Bolsonaro siguiese incitando a todos a salir a la calle, se vería obligado a criticarlo en público.

“Lo haces, y te echo”, dijo fulminante el presidente. Fue necesaria la intervención de los demás participantes para que los ánimos se calmaran.

Terminada la reunión, Mandetta – un hombre conservador, pero cuya actitud hasta este momento es reconocida hasta por adversarios del gobierno – tomó dos actitudes.

Primero, aseguró a su equipo que no va a renunciar, para no abandonar el barco en medio de la tempestad. Y enseguida, convocó una larguísima conferencia de prensa en la que desmintió varias de las afirmaciones anteriores de Bolsonaro y defendió enfática y claramente el “aislamiento social” violado este domingo por el presidente.

Para enturbiar aún más el turbulento ambiente, al regresar de su gira al Palacio da Alvorada, residencia presidencial, Bolsonaro habló a la prensa.

Entre otras joyas de oratoria, a determinada altura dijo: “Ah, ¿has visto lo que dijo el gobernador, lo que dijo el vice? A mí no me interesa”.

Se refería básicamente a los gobernadores derechistas João Doria, de San Pablo, y Wilson Witzel, de Río. Y también al general retirado Hamilton Mourão, vicepresidente de la República.

No satisfecho con el vendaval provocado, dijo que a lo mejor mañana baja un decreto presidencial asegurando a todos el derecho a trabajar.

Preguntado si el texto estaba listo, contestó: “No. Es que tuve la idea en este exacto momento”.

Este domingo, en el estado de San Pablo, se confirmó que el número de víctimas fatales en los 13 días pasados desde el primer diagnóstico es seis veces superior al de China en el mismo periodo.

En el mismo domingo, el mandatario brasileño hizo lo que hizo.

Porque así es Jair Messias Bolsonaro, presidente de un país de 210 millones de personas llamado Brasil.

Página 12


Após tour, Bolsonaro fala em «decreto» para liberar trabalho sem isolamento

Na contramão do ministro da Saúde, que reforçou ontem a importância de os brasileiros ficarem em casa para barrar o novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) anunciou ontem que estuda liberar o retorno às atividades de trabalhadores formais e informais que precisam «levar sustento» para casa.

«Estou com vontade de baixar um decreto amanhã. Toda e qualquer profissão legalmente existente ou aquela que é voltada para a informalidade, se for necessária para levar sustento para seus filhos, para levar um leite para seus filhos, arroz e feijão para sua casa, vai poder trabalhar».
Bolsonaro, contrariando o Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde.

O presidente da República não informou que profissão se encaixaria na categoria «necessária para levar sustento para os filhos», nem qual seria excluída desse critério.

A fala ocorreu após visitar diversos pontos do Distrito Federal neste domingo, desrespeitando as orientações não apenas das autoridades de saúde do Brasil, mas do mundo, que pedem para evitar aglomerações e contato próximo.

https://www.youtube.com/watch?v=Njw4VVc44UU

Segundo projeções do ministério da Saúde, se os contatos sociais não forem reduzidos no Brasil, os casos de coronavírus devem duplicar a cada três dias. Segundo dados oficiais, o país tem 3.904 infectados pelo coronavírus e 111 mortos. Mas os números reais são muito maiores, já que muitos infectados não têm sintomas e não há testes para todos.

Erro já feito pela Itália

Ao incentivar a volta ao trabalho, Bolsonaro:

– Repete estratégia que já deu errado na Itália.

Em Milão, a prefeitura da cidade, governada pela centro-esquerda, minimizou a crise e incentivou, com apoio de donos de restaurantes, a circulação dos cidadãos. O país se tornou ícone do descontrole da covid-19.

– Ignora alternativas para manter renda dos cidadãos

O coronavírus está obrigando diversos países, e não só o Brasil, a frear suas atividades econômicas. E o desemprego é uma ameaça enfrentada por países mais ricos e mais pobres. Para manter renda e evitar empobrecimento em massa, países tão diferentes como EUA e Peru estão investindo em distribuição de renda para a população.

Por aqui, o Congresso aprovou R$ 600 para trabalhadores informais — medida que ainda precisa ser aprovada pelo Senado.

Insight

Mas apesar dos riscos de manter as pessoas circulando, das experiências negativas no exterior e das alternativas em debate no mundo, Bolsonaro ontem afirmou que teve «um insight» e insiste em incentivar a exposição dos brasileiros ao coronavírus.

Durante a visita a trabalhadores informais no Distrito Federal, ele rebateu o questionamento sobre a pertinência de seu passeio.

«Eu também estou trabalhando. Considero essa minha atividade um serviço. Estou do lado do povo para saber os problemas deles», argumentou. «Eu estou na linha de frente com meus soldados. Sou general, mas estou na linha de frente. Se tiver que fazer de novo, farei», disse em outro momento.
Bolsonaro diz que vai enfrentar pandemia «como homem, não como moleque»

Demonstrando irritação, Bolsonaro voltou a fazer referência —sem citar nomes— à disputa com governadores como João Doria (PSDB), de São Paulo, e Wilson Witzel (PSC), do Rio de Janeiro, que vêm adotando medidas de interrupção de atividades para conter a propagação do vírus —como fechamento de estabelecimentos comerciais e cancelamento de aulas em escolas e universidades. O presidente disse que quem estiver «trabalhando de casa» vai ser posto de férias ou demitido se a situação continuar.

«Não podemos tratar esse assunto com demagogia, disputa eleitoral. Tem que tratar com seriedade. Temos que cuidar da vida e do emprego», disse. «Vai enfrentar como homem, pô. Não como moleque. Vamos enfrentar o vírus como realidade, todos nós vamos morrer um dia», afirmou.

Ele também criticou a decisão da Justiça Federal do Rio de Janeiro, que o proibiu de adotar medidas contra o isolamento social e suspendeu a validade de trechos de dois decretos que classificavam igrejas e casas lotéricas como atividades essenciais, garantindo o funcionamento mesmo com orientações contrárias de estados e municípios.

«Botei [em decreto] também as casas lotéricas, a primeira instância derrubou. Vai começar a guerra de liminares. Tenho certeza que a maioria dos juízes não daria essa liminar. [O juiz que deu] Não tem problema nenhum, o salário cai na conta todo mês», criticou.

«Tenho que assumir riscos», diz Bolsonaro sobre medidas

O presidente ainda afirmou que não pode «ficar em cima do muro» ou se preocupar «com o politicamente correto» na gestão da crise do coronavírus. Em diversos momentos da entrevista a repórteres na entrada do Palácio do Alvorada, sua residência oficial, ele disse que apesar «do problema do vírus», é preciso preservar os empregos.

«Como chefe que sou tenho que assumir riscos, para o bem ou para o mal. Tenho que tomar decisão. Não posso ficar em cima do muro. Não posso me furtar de assumir posições. Eu vou para o meio do povo. Quem me critica não vai. Eu vou porque eu sou povo, estou do lado do povo brasileiro. E assim no meu entender tem que se comportar um chefe de Estado», afirmou.

UOL


Governadores se dizem indignados e prometem reagir a eventual decreto de Bolsonaro

Governadores estudam acionar a Justiça se o presidente Jair Bolsonaro cumprir a sua vontade e assinar um decreto para liberar setores da economia a voltarem a funcionar.

Bolsonaro disse neste domingo (29) que pensa em liberar a volta ao trabalho para quem precisa.

Os mandatários estaduais se disseram indignados com a atitude do presidente, que neste domingo contrariou a orientação do Ministério da Saúde e circulou por Brasília cumprimentando apoiadores.

A avaliação feita em um grupo de WhatsApp com governadores do Nordeste é que o presidente continua «inflando» o incêndio em vez de sentar à mesa e liderar o país frente aos desafios da pandemia.

«Ele tem que parar de fazer política, parar de fazer intriga e assumir a função que a maioria do povo lhe deu de presidente da República. Cabe ao governo federal liderar esse processo e não ficar alimentando crise», afirmou o governador da Bahia, Rui Costa (PT).

Costa disse que os estados vão continuar acionando a Justiça caso alguma medida do governo ponha em risco a população.

«Não vamos permitir», afirmou. «O que os governadores querem é que o presidente assuma suas responsabilidades de coordenar as ações de saúde pública para salvar vidas humanas.»

«Parece que todos nós estamos vivendo um grande pesadelo e o presidente brincando», conclui.

A mesma posição foi adotada pelo governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). «Aqui, não vamos recuar. Se for necessário, iremos até à Justiça».

Outros dois governadores também se mostraram indignados com o presidente. Paulo Câmara (PSB), de Pernambuco, disse ser “totalmente contra” a medida estudada pelo presidente. O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), também criticou.

«Que ele assuma as responsabilidades», disse, sobre a possibilidade de se agravar a pandemia no país.

O governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), também reagiu às declarações do presidente. «Amanhã, segunda-feira, 30 de março, assino decreto renovando as medidas restritivas. Essa decisão é baseada na avaliação da OMS [Organização Mundial de Saúde] e das autoridades sanitárias. Não desafie o coronavírus. Não siga atitudes impensadas e descoladas da realidade», disse, em postagem nas redes sociais.

Witzel pediu que as pessoas não se orientem por «irresponsáveis».

​»Olhe o que aconteceu nos países nos quais as pessoas não acreditaram nas consequências desse vírus. Não se oriente por ações irresponsáveis de quem quer que seja. Mantenha-se em casa. Os fluminenses podem ter certeza de que vamos, juntos, vencer essa doença», disse.

O governador do Rio já orientou sua assessoria jurídica a recorrer de toda decisão que vá contra as medidas restritivas implementadas no Rio.

Já Flávio Dino (PC do B), governador do Maranhão, afirmou que o presidente não pode anular a competência dos estados e que, se houver um decreto presidencial, ele não será levado em conta.

“Vivemos em uma Federação. O presidente não tem poderes de ditador. Ele não pode anular competências dos estados sobre proteção à saúde, nem normatizar sobre assuntos de interesse local. Se ele editar essa espécie de “Ato Institucional”, irei ignorar e fazer prevalecer o que consta do artigo 23 da Constituição”, disse Dino.

O governador maranhense comentou ainda decisão do Twitter deste domingo de apagar publicações do presidente por considerar que houve violação de regras.

Bolsonaro publicou neste domingo vídeos de visitas feitas por ele ao comércio de Brasília, descumprindo orientações do Ministério da Saúde e da OMS (Organização Mundial da Saúde) de evitar aglomerações.

“Até o Twitter sabe que Bolsonaro está errado ao desrespeitar os seus deveres quanto à saúde da população”, acrescentou.

“Quando o mandatário maior do país aparece em Brasília reunindo pessoas em aglomeração, quando anuncia que vai baixar um decreto para as pessoas voltarem a trabalhar sem o isolamento social, é claro que isso causa um prejuízo a tudo que estamos fazendo em cada lugar do Brasil”, disse Wellington Dias (PT), governador do Piauí, em vídeo gravado neste domingo.

Dias cobrou ainda o envio de equipamentos e testes pelo Ministério da Saúde. Ele afirmou que é preciso priorizar a vida e não a economia.

“Nós os governadores, os municípios estamos precisando daquilo que o Ministério da Saúde prometeu. Os respiradores não chegaram aqui como foi prometido. Cadê os respiradores? O EPI também não chegou, está chegando a conta-gotas. O material para os exames chegando a conta-gotas e aumentando o número de pessoas em situação de suspeita”, disse.

À Folha o petista disse também que não descarta recorrer à Justiça se Bolsonaro editar o decreto.

A reportagem ouviu também, de maneira reservada, um governador da região Sul do país, que disse esperar que o presidente recue da medida e que vai manter as restrições em seu estado, mesmo que para isso tenha que acionar o Judiciário.

Bolsonaro disse ao chegar no Palácio do Alvorada, após passear por Brasília, que estuda um novo decreto.

«Eu estou com vontade, não sei se eu vou fazer, de baixar um decreto amanhã: toda e qualquer profissão legalmente existente ou aquela que é voltada para a informalidade, se for necessária para levar o sustento para os seus filhos, para levar leite para seus filhos, para levar arroz e feijão para casa, vai poder trabalhar», afirmou.

No sábado, o presidente Jair Bolsonaro foi alertado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes sobre o excesso de judicialização. Quem também conversou com o presidente sobre o assunto foi o procurador-geral da República, Augusto Aras.

Folha de S. Paulo


Twitter apaga publicações em que Bolsonaro questionava isolamento social

Dois tuítes publicados na conta oficial do presidente Jair Bolsonaro, em que ele questionava as medidas de isolamento social para conter a propagação do novo coronavírus, foram apagadas pela plataforma na noite deste domingo, sob o argumento de que violavam as regras desta rede social.

Bolsonaro havia publicado três vídeos em que desrespeitava as orientações do Ministério da Saúde e passeava, neste domingo, por Brasília, aproximando-se de apoiadores, e reforçando seu chamado para romper a quarentena. Duas das três publicações foram apagadas esta noite.

“O Twitter anunciou recentemente, em todo o mundo, a expansão de suas regras para abranger conteúdos que forem eventualmente contra informações de saúde pública orientadas por fontes oficiais e possam colocar as pessoas em maior risco de transmitir a Covid-19”, diz um comunicado da plataforma.

“O que eu tenho conversado com o povo é que eles querem trabalhar. Vamos tomar cuidado, maior de 65 fica em casa”, diz Bolsonaro a um vendedor ambulante em um dos vídeos apagados. “A morte está aí, mas se Deus quiser. Só não pode ficar parado, se não morrer da doença, vai morrer de fome, responde o vendedor a Bolsonaro, que afirma: “Não vai morrer.”

O presidente, 65, também promoveu o uso da hidoxicloroquina para tratar a Covid-19. Apoiando-se em “um estudo de uma entidade francesa”, Bolsonaro afirmou que o remédio “é uma realidade”. Consultada, sua assessoria não informou a qual estudo Bolsonaro fez referência.

Em um quarto vídeo publicado, o presidente questiona a quarentena defendida por governadores e alguns prefeitos como medida para evitar a propagação do vírus: “Esse isolamento horizontal, se continuar assim, lá na frente, com a brutal quantidade de desemprego, teremos um problema seríssimo e vai levar anos para ser resolvido”, diz Bolsonaro, nos arredores da residência oficial.

“O Brasil não pode parar. Se o Brasil parar, vira uma Venezuela”, afirma, posteriormente. “Vamos enfrentar o vírus com a realidade, é a vida, todos nós devemos morrer um dia.”

Istoé


Bolsonaro perde apoio dentro do governo por postura na crise do coronavírus

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro modula seu discurso no caminho contrário ao que o mundo vem fazendo para conter a pandemia do coronavírus, no Brasil, bem próximo dele, inicia-se um movimento de preparo “do meio de campo”, uma espécie de sondagem para o caso de um afastamento do chefe do Executivo.

Na semana que passou, quando o mandatário elevou o tom sobre o que chama de “gripezinha”, o vice-presidente Hamilton Mourão foi procurado por militares de alta patente do Exército, Marinha e Aeronáutica. Mais do que expressar preocupação com o momento, colocaram-se à disposição de Mourão no caso de um impeachment ou renúncia de Bolsonaro.

O HuffPost falou, entre sábado (27) e domingo (28), com participantes do encontro e interlocutores de Mourão, sob condição de anonimato. A conversa inicial se deu logo após o pronunciamento de Bolsonaro em rede nacional de rádio e televisão, na última terça-feira (24), mas outros encontros já voltaram a ocorrer em seguida.

A avaliação do núcleo militar é que, sob o pretexto de se mostrar como um político diferenciado, o presidente está colocando vidas em risco. Contudo, para eles, Bolsonaro parece não estar levando em conta que muito será perdido e que, “quando se fala em perdas humanas, isso vale mais do que qualquer crise econômica”.

Para outra fonte, o entendimento é que Jair Bolsonaro está colocando “generais, capitães e soldados, todos, no mesmo barco” e “não se faz isso em uma guerra”.

Em Brasília, não são apenas os militares que já traçam cenários para o futuro. A conversa que o comando militar teve com Mourão, por exemplo, ocorre com outros ministros também: o que fazer caso o presidente seja afastado?

Auxiliares de Bolsonaro no Planalto e pela Esplanada avaliam que desta vez o presidente pode estar esticando a corda para além do limite. Ninguém acredita, porém, que o presidente vá abrir mão do cargo por meio de uma renúncia, como sugeriu recentemente uma antiga aliada de Bolsonaro, a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP), que chegou a ser cogitada a vice dele nas eleições de 2018.

Embora alguns processos de impeachment já tenham sido protocolados nos últimos dias, desde a fala do mandatário à nação, e mesmo que haja outros, mais antigos, aguardando avaliação da equipe técnica da Câmara dos Deputados – são mais de 15 solicitações para abrir processo de impedimento contra Jair Bolsonaro na Casa -, não há clima político para isso no momento.

Responsável por dar ok para o andamento de processos de impeachment, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já disse mais de uma vez não estar disposto a isso. Ao menos por enquanto. Ele diz a interlocutores que o procuram para tratar do assunto que, no meio de uma crise sanitária, a prioridade do País é salvar vidas e não “domar o presidente”.

A avaliação de Maia e também do núcleo militar é compartilhada nos bastidores do Congresso. Não é hora para se falar em tirar o presidente do cargo. Para parlamentares ouvidos pelo HuffPost, um processo como esse agravaria a crise política e, pior, institucional na qual o País está mergulhada.

Economia X Saúde

O pronunciamento de Bolsonaro, que contou com o aval de seu filho Carlos, teve a intenção justamente de incitar o apoio da base bolsonarista. Ao apostar em falas voltadas ao “sustento da família” para justificar sua tese de que “será só uma gripezinha” para a maior parte da população, o presidente joga para essa platéia e ganha apoio de muita gente que, de fato, tem sido prejudicada pela paralisação do País.

O governo tem anunciado medidas de socorro à população, mas elas ainda não foram implementadas de fato. O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a público neste fim de semana, negou estar doente, e chegou até mesmo a dizer que, se pudesse, ficaria em quarentena. Mas que mais de 3 meses com todos em casa podem ser fatais para a economia.

Neste domingo (29), o chefe da Economia destacou ainda que, se em duas ou três semanas, no máximo, o pacote econômico do governo não começar a sair do papel “nós teremos falhado”.

Há preocupação por parte do mercado. O analista sênior da Eurasia Group Silvio Cascione disse que não se pode afirmar que o presidente está “inviabilizado”, mas que “com certeza piorou o ambiente não só para o enfrentamento à crise, mas para a agenda política depois dela”.

“O comportamento dele está causando muita preocupação [ao mercado]. Está acirrando a disputa com o Congresso, o que aumenta a incerteza sobre a agenda econômica e também o risco de que o controle da epidemia leve mais tempo”, destacou ao HuffPost.

Na avaliação de Cascione, a preocupação de Bolsonaro com a economia e os efeitos do coronavírus é “pertinente”. “Mas está sendo comunicada de uma forma muito agressiva e aumentando o risco de que as pessoas se exponham ao vírus”, ponderou.

Criadouro de crises

Enquanto a equipe de Bolsonaro que trabalha de forma paralela na crise do coronavírus e busca um equilíbrio ao lidar com o temperamento do chefe, as atenções esta semana estarão voltadas para o futuro do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

Ao anunciar os dados do País no sábado (28), o chefe da pasta desconstruiu o discurso que Jair Bolsonaro vem adotando desde o início da crise do coronavírus. Destacou que a cloroquina ainda está em pesquisa e desaconselhou seu uso a não ser para casos graves, criticou protestos que pedem reabertura de comércio, defendeu o isolamento social e repetiu inúmeras, incontáveis vezes: “fiquem em casa”.

Foi uma fala política, recheada de recados e até alfinetadas. “Eu espero e rezo para que aqueles que falam que não vai ser nada, que vai ser só… só… só um pequeno estresse, que isso passa logo e acaba, rezo todo dia para que estejam corretos nas suas avaliações”, afirmou Mandetta.

No núcleo político, acredita-se que o ministro está por um triz. Horas antes de falar no sábado, esteve com o presidente e outros ministros em uma reunião no mínimo tensa. Disse ao chefe que não ficaria mais em silêncio quando ele minimizasse a pandemia e fosse de encontro às orientações técnicas e científicas. Conforme pessoas que participaram do encontro, seria com base nestes critérios e somente neles que Mandetta se posicionaria dali em diante.

Ele foi apoiado por ministros da ala civil que estavam no encontro no Palácio da Alvorada, como Rogério Marinho (Desenvolvimento Social) e Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública).

Após Mandetta atualizar a situação da Saúde no País, pessoas que estiveram com o presidente em seguida afirmaram que ele ficou “furioso”. Embora tivesse sido confrontado pelo subordinado antes, não se esperava que o fizesse de forma tão “enfática”, “incisiva” e “direta”, “com tantos recados”.

Apesar disso, até este domingo (29), havia dúvidas sobre como Bolsonaro tinha recebido os recados de Mandetta dados por meio da imprensa. Depois de conversas com o clã e amigos muito próximos, ele decidiu então romper as orientações do Ministério da Saúde e de seu ministro. Foi para a rua, teve contato com apoiadores, tirou fotos e defendeu o uso de cloroquina.

À noite, o Twitter considerou as duas postagens que o mandatário fez com os registros de suas visitas à Taguatinga e Ceilândia, bairros próximos ao centro de Brasília, impróprias, e as retirou do ar.

Huffpost


Ministério da Saúde anuncia 136 mortes e 4256 casos de coronavírus

O Ministério da Saúde atualizou neste domingo 29 o número de casos de coronavírus no País, são 136 mortes e 4256 casos confirmados. São 22 novos óbitos em 24 horas, além de 352 casos confirmados. O índice de letalidade no País vai a 3,2%.

A região Sudeste concentra o maior número de casos do País, 2342; seguida pelas regiões Nordeste, com 720 casos; Sul, 568 confirmações; Centro Oeste, 399; e Norte, 227.

O Estado de São Paulo segue com o maior número de casos no País. O Estado teve 14 novas mortes em 24 horas, somando 98 vítimas fatais, além de 1451 casos confirmados. Entre as novas vítimas, há dois pacientes jovens, um de 26 e outro de 33 anos.

O Rio de Janeiro soma 17 óbitos e 600 casos confirmados. A secretaria de saúde confirmou, neste domingo, mais quatro óbitos por conta do coronavírus. As vítimas são três homens de 64, 72 e 86 anos; e uma mulher de 78 anos. Todos eram residentes da cidade do Rio. A SES informa ainda que há outros 47 óbitos em investigação. Do total de casos no Estado, 516 estão na capital.

Também neste domingo, alguns estados do País confirmaram as suas primeiras mortes. Caso do Maranhão, que anunciou a morte de um paciente morador de São Luís, que tinha histórico médico de hipertensão.

Ainda foram confirmadas as primeiras mortes por Covid-19 no Distrito Federal, na Bahia e no Rio Grande do Norte.

No Distrito Federal, a vítima foi uma mulher de 61 anos que estava internada em um hospital regional da Asa Norte e tinha outros problemas de saúde. É o segundo caso de morte na região Centro Oeste, o primeiro registro foi em Goiás.

Na Bahia, vítima fatal foi um homem de 74 anos, que estava internado em um hospital privado da capital baiana. O paciente estava entubado e em diálise contínua, segundo informações da secretaria. O óbito ocorreu na noite do sábado, 28.

Na noite do sábado, a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Norte também confirmou o primeiro óbito pelo novo coronavírus no estado. A vítima é um professor universitário de 61 anos, com histórico de diabetes. O Estado, segundo levantamento do Ministério, tem 45 casos confirmados.

Carta Capital

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