Brasil: se realiza el tercer debate presidencial sin Lula ni Bolsonaro

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Seis candidatos a presidente da República participaram na noite deste domingo (9) de um debate na TV Gazeta promovido pela emissora, pelo jornal «O Estado de S. Paulo» e pela rádio Jovem Pan.

O debate reuniu Alvaro Dias (Pode), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Marina Silva (Rede) – veja mais abaixo as propostas apresentadas pelos seis candidatos.

Antes de o debate começar, a mediadora, Maria Lydia Flândoli, informou que a TV Gazeta manifestava solidariedade ao candidato do PSL, Jair Bolsonaro, internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Na semana passada, ele levou uma facada durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG).

A mediadora também informou que, como o PT ainda não tem candidato a presidente da República, não haveria representante do partido. Na semana passada, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou a candidatura de Luiz Inácio da Lula da Silva à Presidência. O PT ainda não anunciou o substituto.

Durante o encontro deste domingo, os postulantes apresentaram propostas sobre saúde, segurança, educação, combate à corrupção e economia.

O debate foi dividido em cinco blocos:

  • 1º bloco: Candidatos responderam a perguntas de candidatos;
  • 2º bloco: Candidatos responderam a perguntas de jornalistas;
  • 3º bloco: Candidatos responderam a perguntas de candidatos;
  • 4º bloco: Candidatos responderam a perguntas de internautas;
  • 5º bloco: Candidatos fizeram as considerações finais.

Propostas

Conheça abaixo as propostas apresentadas pelos candidatos em respostas a perguntas que receberam durante o debate.

Observação: A ordem dos candidatos abaixo seguiu a ordem de respostas dadas no primeiro bloco do debate.

>>> GERALDO ALCKMIN (PSDB)

Combate à corrupção: «O ex-presidente Lula foi condenado em segunda instância e cumpre prisão, e o Aécio Neves nem julgado foi. E nós não passamos a mão na cabeça de ninguém. A lei é para todo mundo. Quem deve, deve responder e deve ser punido. Quem não deve, deve ser absolvido. É isso que a população deseja. Em relação ao caso de um promotor aqui em São Paulo, é muito estranho ele entrar com um pedido de ação porque esse assunto já foi para o STJ, e o STJ já disse que não tem nenhum caso de improbidade administrativa e essa é a posição também do Ministério Público. Estranho que isso ocorra a menos de 30 dias das eleições. Eu não tenho só ficha limpa, eu tenho vida limpa, 40 anos dedicados à vida pública, meu patrimônio é o mesmo, moro no mesmo apartamento há 30 anos, abri mão de aposentadoria de deputado estadual, de deputado federal, e o que herdei do meu pai vou deixar para os meus filhos: um nome honrado.»
Reforma política: «Entendo que precisa haver a reforma política porque estamos num ambiente político totalmente errado. Só no Brasil para ter 35 partidos. Diminuir partidos, ministérios, senadores, deputados, privatizar, enfim, uma grande reforma do Estado.»

Combate ao crime organizado: «São Paulo tinha em 2001 13 mil assassinatos, talvez o candidato [Henrique Meirelles] não saiba. Nós reduzimos para 11 [mil], 9 [mil], 7 [mil], 5 [mil] e no ano passado foram 3,5 mil. Nós saímos do 25º estado mais perigoso para o mais seguro do país, com menor indicador. Com inteligência, tecnologia, software de inteligência, investigação, investimento no sistema prisional. Enquanto o governo do Lula, o governo federal não tinha uma penitenciária de segurança máxima, nós tínhamos 3 e atendemos ao governo federal e aqui ficaram grandes traficantes. Nós vamos levar isso para o Brasil inteiro, vamos ajudar todos os estados, vamos ter uma agência nacional de inteligência, unir a inteligência da Polícia Federal, das Forças Armadas, da Abin, da Polícia Rodoviária Federal e dos estados. Vamos ter uma guarda nacional em caráter permanente, não essa Força Nacional que empresta policial de um estado para o outro, mas uma guarda nacional permanente, com força-tarefa para as 50 cidades mais violentas.»

Penitenciárias: «Questão de segurança pública é absolutamente prioritária. No ano passado nós tivemos 63 mil assassinatos no Brasil, um triste recorde. Muito voltado à questão do tráfico de drogas, tráfico de armas e problemas nas fronteiras. Eu vou trabalhar firme tendo agência de inteligência, integrando as inteligências para a questão das fronteiras, informação, inteligência. Trabalhar com os países vizinhos, crime não tem fronteira. Nós somos vizinhos de grandes produtores de droga do mundo. Tráfico de drogas, tráfico de arma, toda a prioridade nisso. Endurecer a legislação contra o crime organizado, penitenciária de segurança máxima. O governo federal só tem cinco penitenciárias, e só quatro praticamente que estão efetivamente funcionando. Aqui em São Paulo nós investimos, 90 mil presos trabalham e estudam. As penitenciárias de segurança máxima todas com bloqueador de celular, todas as penitenciárias com scanner, com fechamento de portas automáticas. Vamos investir. Não tem como ter um bom sistema de segurança se não tiver um bom sistema de segurança pública.»

Considerações finais: «Agradecer a você que está nos acompanhando até este final do debate. Dizer que tenho até mesmo, antes de ser candidato à presidente da República, e esse também é o pensamento de uma mulher corajosa, batalhadora, como é a Ana Amélia, a nossa candidata a vice-presidente da República, que nós temos defendido a pacificação. Apenas unidos nós vamos conseguir superar os grandes desafios do Brasil. O desafio do emprego e da renda, trazendo investimento, fazendo reformas, tendo uma agenda para o crescimento brasileiro. A agenda da educação, educação de qualidade, da saúde e da segurança. Todas as vezes que o Brasil fez um esforço de pacificação, ele avançou. O Brasil já tem problemas demais, os brasileiros já têm problemas demais, nós não podemos ter um próximo presidente ainda mais problema. Não. É hora de decisão. O Brasil já errou. Nós já erramos e vimos as consequências. Nós estamos preparados para fazer um grande esforço de união nacional, em torno da mudança política, da mudança tributária, da reforma do estado brasileiro, para que o país se encontre e seja uma grande nação.»

>>> MARINA SILVA (REDE)

Evasão escolar: «Sem educação não vamos a lugar nenhum. A minha proposta para a educação é que ela seja educação de qualidade, aonde as nossas crianças tenham acesso ao contraturno, com educação integral. Aonde os nossos professores sejam bem treinados para serem melhor capacitados, com salários justos e planos de salário. E que a educação brasileira passe a ser atual. Boa parte da evasão escolar tem a ver com uma educação que ensina aquilo que as crianças e os jovens não sabem como vão aplicar. Para que se possa aprender é preciso que se crie o desejo de aprender. Desenvolver as habilidades e ao mesmo tempo ter como utilizar essas habilidades de forma produtiva. Essa é a educação que nós vamos fazer com foco na primeira infância, que é ali onde a criança aprende a aprender.»

Corrupção: «A Operação Lava Jato trouxe para o país uma série de comprovações de envolvimento de políticos com corrupção, não só deles, mas dos seus partidos. E que infelizmente lideranças que poderiam estar contribuindo para o país estão igualmente envolvidas. O que o presidente Lula hoje está sofrendo em função da sua prisão tem a ver com o poderoso esquema de corrupção que se criou dentro do governo do PT, mas não só do governo do PT. Nos governos anteriores também, com a compra de voto e que muitos deles só não estão presos, como é o caso de Aécio Neves, como é o caso de Renan Calheiros, do próprio Temer, do Padilha, do Moreira Franco e tantos outros que agora estão no palanque do PSDB porque têm foro privilegiado. Eu digo que a justiça não pode ter dois pesos e duas medidas, por isso que eu apoio a Operação Lava Jato, porque a gente tem que combater a corrupção é com medidas de fato. Não é apenas dizendo que é tolerância zero com a corrupção sem nenhuma proposta. Combater a corrupção é enfrentar o problema da corrupção sistêmica, institucional que assaltou os fundos de pensão, a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, a qual PT, MDB, DEM, PSDB praticaram juntos.»

Saúde: «No meu governo, vamos oferecer saúde de qualdiade para todos e transformar o SUS num plano de saúde dos brasileiros. Tenho a felicidade de ter Eduardo Jorge como vice e ele coordena a área de saúde. Ele foi um dos idealizadores do SUS e a proposta é reestruturar o SUS criando 400 regionais atendendo, cada uma delas, 500 mil pessoas para poder ampliar a cobertura de saúde e oferecer serviço de qualidade na saúde pública com especialistas. Boa parte das pessoas não tem atendimento especializado. Nós vamos ampliar a cobertura de saúde com foco nos médicos de saúde da família, com equipes de saúde da família para que todos os brasileiros tenham saúde de qualidade, valorizando os profisisonais, sendo bem remunerados, bem treinados, formando médicos generalistas para atender na ponta. Vivi as mazelas de não ser atendida corretamente e tenho este compromisso.»

Correios e indicações políticas: «Os Correios têm um símbolo importante no nosso país. Durante décadas a única forma de se comunicar com uma pessoa era através dos Correios. Eu mesma, que nasci e me criei nos seringais da Amazônia, conseguia chegar uma carta do longínquo Ceará, lá do Ciro Gomes, para o meu pai, ainda que demorasse um ano, chegando por água, isso era fruto dos trabalhos dos Correios. Ele tem uma simbologia. No entanto, a roubalheira, a politicagem, a falta de eficiência faz com que hoje os Correios fique na situação que você, meu jovem, acaba de referenciar. O que é público não é necessariamente incompetente, ineficiente. No meu governo, nós vamos escolher as pessoas com critério de idoneidade ética, capacidade técnica, e blindar as instituições públicas da politicagem, do toma-lá-dá-cá, do desvio de verba pública, da ineficiência. Dar eficiência a algumas instituições públicas, como o Correios, Caixa Econômica, Banco do Brasil, Petrobras, blindando da corrupção, é um compromisso para mostrar que gestão pública pode ser feita com eficiência, com transparência e é isso que nós vamos fazer. Eu tenho os melhores comigo para poder gerenciar e é assim que eu vou governar.»

Considerações finais: «Este é o primeiro debate que nós estamos fazendo depois do atentado contra o candidato Jair Bolsonaro. Eu tenho dito reiteradas vezes que entrei nessas eleições mesmo com todas as dificuldades de não ter tempo de TV, dinheiro, fazendo campanha francisca, mas entrei para oferecer outra face. Para a face do ódio, o amor. Para a face da preguiça, o trabalho. Para a face da violência e do desrespeito, tolerância. Respeito com as ideias dos outros mesmo quando elas são diferentes das nossas. Eu sou mulher, sou mãe de quatro filhos. Vi a violência perto da minha vida desde a minha adolescência. O assassinato do Chico Mendes, do Ivair Gino e de tantas outras pessoas. Em pleno Século 21, nesse ano de 2018, tivemos o assassinato da Marielle, tivemos o atentado à caravana do presidente Lula e tivemos agora o atentato contra o Jair Bolsonaro. Nós não vamos chegar a lugar nenhum com o país dividido. E quero chamar você, mulher, para, junto comigo, fazermos um grande movimento de unir o Brasil a favor daquilo que interessa: saúde, educação e vida digna para todos. Um país próspero e bom de se viver.»

>>> ALVARO DIAS (PODE)

Santas Casas: «Quando se fala em saúde pública, ou segurança pública, educação, enfim, infraestrutura, e o Banco Mundial realizou um estudo na saúde pública do nosso país e revelou que o que falta não é dinheiro. É planejamento, é gestão competente e honestidade. Há desvios em excesso. Essas instituições filantrópicas complementam uma atividade que deveria ser do governo. O SUS é um grande programa, mal executado, mal implementado, há planos de saúde que estão comprometidos pela ineficácia. E os dependentes desses planos de saúde acabam na Santa Casa de Misericórdia. E os planos de saúde não oferecem o ressarcimento. Nós tivemos uma isenção de impostos em 2016 de R$ 19 bilhões na área de saúde, no atendimento dos planos de saúde. Imaginem se nós pudéssemos aplicar esses R$ 19 bilhões no serviço de saúde pública do país. Ocorre que beneficiamos os planos de saúde. A Agência Nacional de Saúde não fiscaliza e o doente é obrigado a ir para um hospital público ou para uma Santa Casa de Misericórdia e o plano de saúde não oferece o ressarcimento correspondente. Portanto, nós beneficiamos de um lado e sofremos as consequências do outro. Quem paga é o contribuinte brasileiro.»

Meio ambiente: «Eu acho que mais importante do que alguém possa dizer num debate como este é o que viveu, o que fez, eu fui governador do meu estado e realizei, no Paraná, o maior programa de preservação ambiental da nossa história, um programa que foi considerado modelo para o mundo, pela FAO, e pelo Banco Mundial, e foi implementado em 18 países, com 45 práticas agrícolas, desde a curva de nível no manejo integrado dos solos e das águas, os gurundus em curva de nível para evitar a erosão, a recuperação das matas ciliares, a adubação verde para economizar no agrotóxico, os abastecedouros comunitários para evitar que o vasilhame com agrotóxico chegasse aos rios e aos lagos. O que nós temos é que fiscalizar a aplicação dos agrotóxicos com rigor e orientar tecnicamente para que os produtores rurais possam aplicá-los, porque o agrotóxico é aplicado em todos os países evoluídos do mundo, no Canadá, na França, na Itália, enfim, com correção, com formação técnica adequada e com uma investigação do órgão governamental para punir eventuais abusos que possam alcançar o interesse coletivo que é a preservação da saúde das pessoas que se alimentam dos produtos colhidos pelos nossos produtores rurais que são essenciais no processo de desenvolvimento do nosso país.»

Privilégios das autoridades: «Há instituições no país, Ministério Público, Polícia Federal, parta do Judiciário que reabilitam as esperanças do povo brasileiro no futuro do país com uma nova Justiça. No entanto, em relação a privilégios, nós não podemos suportar mais os privilégios das autoridades. Mas não basta na campanha eleitoral anunciar o combate aos privilégios. Nós que já tivemos oportunidade de ter privilégios, devemos antes de combater o dos outros, eliminar os nossos próprios privilégios. E assim tenho atuado, combatendo a corrupção implacavelmente desde sempre. Desde que fui governador, prendendo através da prisão administrativa, anulando licitações fraudadas, eliminando privilégios como aposentadorias especiais, como determinados penduricalhos para aumentar salários. Evidentemente se for presidente da República, vamos acabar com os privilégios de todas as autoridades dos três poderes. Porque se nós queremos mudar o Brasil para melhor, construir a grande nação que merecemos, precisamos começar pelo andar de cima, eliminando todos os privilégios das autoridades brasileiras, no Legislativo, no Judiciário e no Executivo. No Legislativo, inclusive reduzindo seu tamanho, diminuindo o número de senadores e de deputados federais.»

Indicações políticas: «Toda essas propostas aqui apresentadas por todos nós candidatos não serão exequíveis se nós mantivermos esse sistema corrupto e incompetente de governo que é o balcão de negócios, o aparelhamento do estado, do loteamento dos cargos públicos, dessa relação promíscua entre os poderes, especialmente, Executivo e Legislativo. O desmonte desse balcão de negócios é o começo para a qualificação técnica do governo. Hoje o que temos é a indicação partidária. E os mais competentes não são os indicados. Não há critérios de competência, de aptidão para cargo executivo, não há critério da probidade e da eficiência e qualificação técnica. O que há é o interesse meramente eleitoreiro de partidos políticos que colocam aqueles que aceitam amealhar recursos para os seus projetos eleitorais, abrindo portas para a corrupção desenfreada que levou o país a essa indignação coletiva. O que vamos fazer? Desmontar esse balcão. Ele foi clonado, foi transplantado para estados e municípios, distribuindo incompetência e corrupção. A qualificação técnica do governo, com uma reforma de estado, e a redução para cerca de 14 a 15 ministérios apenas, com qualidade técnica e profissional. Elevando o nível da administração pública.»

Considerações finais: «Eu imagino o que deve estar pensando agora o brasileiro que nos acompanha, diante de tantas promessas, de tantas propostas. E essa descrença que campeia no país, como consequência dos desgovernos, da corrupção avassaladora, que provocou revolta e indignação. O que dizer aos brasileiros? Eu confesso que teria constrangimento de apresentar qualquer proposta se antes não assumisse o compromisso de romper com esse sistema de governança corrupto e incompetente. Alguns estão sendo presos, outros ainda serão certamente. Mas se nós preservarmos esse sistema ele continuará sendo essa fábrica de barões da corrupção em nosso país e nós não vamos alcançar os índices de crescimento econômico compatíveis com a grandeza de nosso povo. Hoje é o ano novo da comunidade judaica e eu me lembro que esse país é o país das crenças e das religiosidades. Nós somos muitos Brasis dentro de um grande Brasil e devemos nos respeitar. O ódio cega a inteligência. A raiva e a intolerância alimentam a violência e comprometem o processo democrático. O nosso repúdio àqueles que praticam a violência e àqueles que estimulam a violência. O brasileiro precisa abrir o olho.»

>>> GUILHERME BOULOS (PSOL)

Redução de juros: «O Brasil se tornou um paraíso dos banqueiros. É impressionante, uma verdadeira Disneylândia financeira. Banco aqui faz o que quer. Esses dias estava dialogando com um economista, e ele me contou o exemplo do banco Santander. Para uma mesma linha de crédito, na Espanha, sua matriz, cobra juro zero e, no Brasil, cobra 140%. Nós vamos acabar com a farra dos bancos. Primeiro, em relação à ‘bolsa banqueiro’, que são os juros abusivos que se cobra para a dívida pública no Brasil e que levam mais de R$ 400 bilhões ao ano. Enfrentando a ‘bolsa banqueiro’, nós temos condição de investir no social, investir em educação, saúde, moradia popular e em tudo o que o Brasil precisa. Segundo, baixando o juros que você paga no seu cartão, no cheque especial. Vamos fazer isso através dos bancos publicos, a Caixa Econômica e o Banco do Brasil. Se a Caixa Econômica e o Banco do Brasil baixam os juros, os bancos privados têm que vir atrás, senão perdem a clientela. Assim vamos enfrentar a farra dos bancos, um clube dos privilegiados que acham que mandam no país.»
Combate à ‘radicalização’ na política: «Primeiro, nós temos que diferenciar o que é violência e ódio na política e o que é polarização social. Diferença na política é necessária. Quando ela transborda para o ódio, quando a intolerância substitui o argumento, isso é inadmissível. Aliás, nós fomos as maiores vítimas disso. Essa semana faz seis meses do assassinato covarde da Marielle Franco, nossa companheira de partido, sem que a gente saiba quem matou e quem mandou matar a Marielle. Essa pergunta segue no ar. A própria caravana do ex-presidente Lula foi atingida a balas e houve um silêncio geral de alguns setores da sociedade. O senhor Jair Bolsonaro agora sofreu também um ataque e nós repudiamos. Porque todas as diferenças que eu tenho com o Bolsonaro, nós não vamos resolver isso na violência. Nós vamos resolver isso na diferença política. Agora, nós precisamos tratar uma coisa aqui. Querer achar o pai da polarização sem entender a sociedade brasileira é hipocrisia. Numa sociedade em que seis bilionários têm mais que 100 milhões de pessoas, um abismo brutal de desigualdade, nós vamos resolver a polarização não apenas com palavras. Nós vamos resolver enfrentando esse abismo social, enfrentando as desigualdades e o sistema de privilégios que vigora nesse país. Para isso tem que ter coragem, para isso não pode ter rabo preso. Agora, isso se faz no âmbito da política, no âmbito da mobilização, não no âmbito da violência.»

Terras indígenas: «Nós vamos demarcar terras indígenas e quilombolas nesse país. Não é possível mais que o Brasil aplique um modelo de desenvolvimento que só pense em crescimento econômico que enche o bolso de alguns e nem se distribui renda e ainda se passa por cima das florestas e dos povos originários. Nós não vamos fazer desse jeito. Nós vamos combinar desenvolvimento econômico com desenvolvimento social com sustentabilidade ambiental. Isso passa pela demarcação de todas as terras indígenas e quilombolas. E barrar essa tese absurda do marco temporal, que quer que as terras indígenas apenas até a Constituição de 1988 sejam consideradas. Não! Os indígenas terão seus direitos garantidos, junto com uma política que não vai estar voltada para o agronegócio. Tem gente que diz que o agronegócio que carrega o Brasil nas costas. Não é assim não, é o Brasil que carrega o agronegócio nas costas, com subsídios absurdos, com desonerações sem limite. No nosso governo, nós vamos valorizar agricultura familiar, com projeto de reforma agrária, agroecológica. Vamos demarcar as terras indígenas, as terras quilombolas e assegurar o direito à terra para quem a ela pertence. E não fazer uma política que só vai dar crédito, desoneração para o agronegócio que só desmata. Por isso nosso governo também terá o compromisso com o desmatamento zero.»

Igualdade salarial, educação e teto de gastos: «Vamos criar a lista suja do machismo. Qualquer empresa que pague menos para mulher do que para homem não vai poder fazer crédito em banco público, não vai poder fazer negócios com o Estado e vai ter seu nome exposto em praça pública. Segundo, o sistema não quer que a gente conheça nossos direitos. O problema do descaso com a educação nao é um acaso, o problema do descaso com a educação é uma política exatamente para que a educação continue precária e as pessoas não tenham consciência sobre o que acontece. Esta é a lógica do sistema. Por isso, temos de trabalhar na linha, de um lado, de investimento, revogando o teto de gastos absurdo. Quem vier aqui dizer que vai investir em educação e não se comprometer com o fim do teto de gastos está mentindo. Segundo, vamos trabalhar também em relação ao currículo. Educação tem que preparar para a vida, não apenas para fazer uma prova no final do ano. Nossos jovens se vadem porque a educação não tem o currículo que os interesse. O professor não é valroizado. Temso de tratar dos grandes temas na escola, fazendo uma reforma curricular, trazendo o pensamento crítico de volta.»

Considerações finais: «Quero agradecer a você, Maria Lyidia, agradecer aos organizadores do debate. E, principalmente, agradecer a você que está em casa nos assistindo nesta noite de domingo. O Brasil vive uma grave escalada de ódio e de violência. O assassinato da Marielle Franco vai fazer seis meses e nós não sabemos quem matou, quem mandou matar. Os tiros na caravana do Lula. E agora uma campanha eleitoral cheia de ódio com o episódio que aconteceu na semana passada. Esse sistema, esse sistema do ódio, da violência, da morte, é o mesmo sistema dos privilégios, da desigualdade, da indiferença. A gente foi perdendo, isso não é de hoje, as pessoas perderam a capacidade de se colocar no lugar das outras. As pessoas passam, vem alguém na calçada, sem-teto, com fome, e passam reto. Como se ali não tivesse alguém. As pessoas se tornaram invisíveis. Uma criança chega num semáforo e alguém no carro fecha o vidro. A gente foi perdendo a capacidade de solidarizar. A crise no Brasil é profunda, não é apenas uma crise econômica, não é apenas uma crise política. É uma crise de destino. É uma crise ética. E eu sou o único candidato com condições de enfrentar esse sistema. Porque não tenho rabo preso. Sou o único candidato que posso restaurar a solidariedade como modo de fazer política. Por isso [quando] chegar no dia 7 de outubro, vote PSOL, vote Boulos 50, vote contra o sistema.»

>>> HENRIQUE MEIRELLES (MDB)

Emprego: «Quando eu fui presidente do Banco Central no governo do Lula, nós criamos 10 milhões de empregos em 8 anos e aumentamos a arrecadação que permitiu criação do Bolsa Família e do do Minha Casa Minha Vida. Quando voltei ao governo, eu criei as condições para que Brasil não só criasse 2 milhões de empregos e tirasse o Brasil da maior recessão da história, mas também reforçasse e aumentasse o Bolsa Família. Portanto, como presidente da República, me comprometo a criar 10 milhões de empregos. Porque sei como fazer isso e já fiz. Porque não se divide o país não se divide entre quem gosta do Temer e quem não gosta, ou quem gosta do Lula e quem não gosta do Lula, do FHC ou não. O país se divide entre quem trabalha e quem não trabalha. Como é exatamente a questão de quem trabalhou a vida inteira e tem que gente que não.»

Saneamento básico: «Nós temos hoje mais de 7 mil obras paradas no Brasil. Inclusive, muitas delas de saneamento básico. O meu projeto é investir fortemente em saneamento, porque o saneamento não é tão privilegiado pela maioria dos políticos porque ele é por baixo e ele não aparece, não é um bom objeto de campanha. No entanto, pela minha história, pelo meu passado, eu sempre vou na causa dos problemas. E o saneamento básico ou a ausência de saneamento básico, por exemplo, apenas 20 entre as 100 maiores cidades brasileiras têm esgoto tratado. Isso é um absurdo porque a ausência de saneamento ou a ausência de, no caso, de tratamento de esgoto é a grande fonte de doença no Brasil. Não adianta falarmos de saúde, falarmos de muita coisa se nós não formos enfrentar o problema do saneamento em primeiro lugar. Para isso é necessário competência, é necessário gestão, e para isso é necessário foco. É necessário dar prioridade a isso. E não apenas ficar fazendo propostas e ações demagógicas e que possam gerar notícia ou aparência. Como eu sempre fiz, eu vou na raiz das coisas e vamos atacar o problema de saúde no Brasil com saneamento.»

Desigualdade salarial entre homens e mulheres: «É absolutamente inaceitável que mulheres ganhem mais (sic) do que os homens ocupando a mesma função, em primeiro lugar. Precisam também ter oportunidade de ocupar a mesma função, não é apenas uma coisa. Precisamos conseguir as duas coisas. Para isso existe uma lei, a lei diz claramente que ocupando a mesma posição e tendo exatamente as mesmas funções, homens e mulheres devem ganhar a mesma coisa. O problema é como obrigar as empresas a seguir a lei. Para isso precisamos ter um governo que tenha força, que tenha ética e que tenha respeitabilidade, que tenha credibilidade. Porque nós vamos sim punir as empresas e nós temos também que ter também mecanismos de conhecer isso. Portanto nós vamos estabelecer um sistema nacional de informação onde todas as mulheres que se sentirem prejudicadas vão transmitir a sua informação a um comando central que vão punir essas empresas. E uma coisa muito importante: nós vamos preencher também o conselho de administração das estatais com pelo menos os 30% composto por mulheres. No mínimo, porque idealmente nós vamos chegar a um número maior.»

Educação: «A primeira coisa na educação é nós aprendermos a dizer a verdade para estudantes e para as crianças. Por exemplo, não existe um teto para investimentos em saúde, segundo a Constituição. Existe um piso. A partir daí, nós temos que eliminar a ideologia. A educação deve dar ao estudante o direito de aprender, não o direito de passar de ano. E vamos criar o Prouni estendido às creches. É o pró-creche, pró-criança.»

Considerações finais: «Muitos me perguntam: ‘Henrique, por que que você que chegou lá ao topo de uma grande organização mundial, voltou ao Brasil? Agora você não precisa disso, e ao contrário de muitos, você também não necessita disso para viver, por que você está enfrentando esse problema, por que que você está nesse esforço para ser candidato à Presidência da República?’. Eu digo: ´Porque eu tenho profundo desejo de melhorar a vida da sua família, a sua vida, a vida dos brasileiros que estão sofrendo muito, é verdade, com toda a situação do país, não só na economia, como na saúde, na educação, também na segurança, que é uma coisa fundamental. E eu sei como fazer isso. Eu já presidi uma grande organização mundial e eu vi como funciona e não funciona em 32 países. Voltei ao Brasil, assumi o Banco Central, e colocando isso para funcionar, e criamos 10 milhões de empregos no Brasil. Voltei novamente, tirei o Brasil da maior recessão da história. Agora, junto com vocês, nós vamos criar 10 milhões de novos empregos no Brasil nos próximos quatro anos. Para isso, eu preciso apenas do seu voto. É só me chamar e nós vamos construir o Brasil que você quer.»

>>> CIRO GOMES (PDT)

Segurança pública: «A minha ideia é dar conteúdo prático a um sistema único de segurança pública. Foi criado recentemente na lei, mas sem orçamento, sem institucionalidade, sem nada. E, basicamente, a Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública) tem que ser empoderada com orçamento compatível com a escalada absolutamente assustadora da violência em todos os lugares. Em todos os lugares o Brasil, praticamente, perdeu o controle numa luta que, basicamente, é comandada pelas facções criminosas sediadas em São Paulo e no Rio de Janeiro e que se espalharam pelo Brasil numa disputa, absolutamente, aterradora por território para o narcotráfico, determinando, de dentro da cadeia em São Paulo e nos outros lugares, do Rio de Janeiro, inclusive, a mortandade de jovens negros, pobres, caboclos, pelo Brasil afora. Trazer para o sistema único de segurança pública a responsabilidade federal. Eu quero, como presidente da República, assumir a responsabilidade, desde a investigação até a segregação nas prisões federais, do enfrentamento ao crime organizado pelo narcotráfico, facções criminosas, crimes de corrupção contra a administração pública, crimes cometidos por policiais civis e militares ou de outra categoria e, por fim, o crime de lavagem de dinheiro. Vamos procurar achar o dinheiro e expropriar esse dinheiro que é a única forma de cortar a cabeça do crime organizado.»

Lava Jato e Poder Judiciário: «Eu acho que a Lava Jato pode ser, quando se consolidar, uma virada histórica na vida de impunidade com que se premiou a ladroagem de alto coturno no Brasil. Entretanto, a minha formação é de profissional do direito, fui professor de direito, e a Justiça barulhenta, a Justiça que dá entrevista, a Justiça que vive de gravatinha borboleta nos salões da grande burguesia nacional e estrangeira está sempre vulnerável à suspeição. Tudo o que nós brasileiros não precisamos é de uma operação tão potencialmente como essa ser inquinada de suspeição. Eu, como profissional do direito, perguntado nas circunstâncias em que fui, considero que a sentença que condenou o presidente Lula é injusta. Eu explico o porquê – e quem julga são os tribunais. No Brasil, o sistema que vale – e isso é só direito, não tem a ver com minha simpatia ou antipatia – é o que está escrito. Não existe crime sem lei anterior que o defina, e o juiz Sérgio Moro, já homologada sua sentença por um tribunal, não consegue demonstrar uma prova sequer. E condena o Lula pelo conjunto de indícios, é a primeira sentença que conheço dessa maneira.»

‘Reconstituição’ das instituições: «Meu caro governador Alvaro, eu vejo com muita preocupação. Claro que protocolarmente as coisas ainda estão no ambiente da institucionalidade democrática. Mas há uma brutal contestação da legitimidade da operação das instituições centrais. Vamos lá, Presidência da República desmoralizada. Pela primeira vez na história brasileira, e pela segunda vez na história brasileira, o presidente da República, ele mesmo acusado pela Procuradoria Geral da República, por corrupção e formação de quadrilha. Pela primeira vez na história da República, a mim me parece, as maiorias do Congresso Nacional, no Senado e na Câmara, estão envolvidas na tal Lava Jato e em conjunto de procedimentos contra a moralidade e a decência pública. E isso permite, e essa é a minha grave preocupação, que estando o poder democrático assim tão desmoralizado na ladroeira, na irresponsabilidade, chafurdando no privilégio, os poderes técnicos que não são eleitos pelo povo, mas assumem posições de juízes ou de procuradores, por concurso público, de mérito, que eles ocupem esse vácuo que o poder político desmoralizado está permitindo. Por isso que eu tenho uma preocupação e que a próxima Presidência da República, qualquer um de nós, terá, entre as suas graves tarefas, a tarefa de reconstituir a institucionalidade e a saúde das operações das instituições brasileiras. Só assim nós podemos repudiar essa ideia de que pessoas condenadas pela lei possam todo dia estar dizendo que a lei só presta para ou outros e não para elas.”

Teto de gastos: «O Brasil está com um problema muito grave, sério e o incêndio no Museu Nacional é a manifestação trágica, aguda, urgente e que me deprimiu profundamente esse fenômeno. O Brasil, a aliança do PSDB com o MDB impôs à nossa nação 20 anos de congelamento de investimentos em saúde, educação, moradia, segurança, infraestrutura, ciência, tecnologia, cultura e tudo mais o que interessa. Deixou 51,6% do orçamento para o baronado financeiro livre e os privilégios da Previdência, livres. Todos os nossos programas não serão verdadeiros se não assumirmos com clareza o compromisso de exigir a revogação da Emenda 95 [teto de gastos]. O Museu Ipiranga é mantido pela USP, do governo do estado de São Paulo, e está fechado. É a próxima vítima em potencial e essa é a mesma realidade para postos de saúde, escolas e delegacias.»

Considerações finais: «Eu quero agradecer a você, Maria Lídia, agradecer à TV Gazeta e aos parceiros que promoveram esse debate, cumprimentar os ilustres adversários por esta noite e especialmente agradecer a você, meu irmão, minha irmã brasileiros que ficaram até a esta hora conosco. Se você pensa que o Braisl precisa mudar, nós estamos juntos nesta batalha. O Brasil, de fato, não pode continuar com 63 milhões de pessoas humilhadas com seu nome no SPC. O Brasil não pode manter-se alheio a 13,7 milhões de irmãos e irmãs nossas desempregados. Não é possível que o nosso país continue com o coração fechado para mais de 32 milhões de brasileiros que estão vivendo de bico, 60 mil mulheres sendo estupradas no nosso país, mas isso não precisa ser assim. Um projeto nacional de desenvolvimento que tenha compromisso em consultar as melhores inteligências tem a resposta para tudo isso que é o desafio que leva muitos de nós ao desânimo e outros tantos, à revolta. Nem o desânimo nem a revolta são bons conselheiros. Este restinho de esperança que está aí, não decida agora. Bote um pé atrás, compare os candidatos, assista aos debates, veja quem entregou quando teve a oportunidade, veja se há coerência entre o que falam e aquilo que fzem ao longo da sua vida, se têm compromisso com a agenda da classe média e dos mais pobres, que são a vida dessa tragédia nacional. Tenho pouco tempo na TV, mas cirogomes.com.br é o meu site e explica todas as propostas. Muito boa noite.»

Globo


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